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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'São Paulo é a cidade símbolo da luta pela democracia', diz Bruno Covas

Prefeito diz que Bolsonaro deve esquecer o comunismo mundial e afirma que aprendeu a lutar pela vida com o avô

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O prefeito na varanda de seu gabinete na Prefeitura de São Paulo Eduardo Knapp/Folhapress

O prefeito Bruno Covas (PSDB-SP) recebeu a coluna em seu gabinete na Prefeitura de SP na segunda (30). Na conversa, repetiu diversas vezes a palavra “impressionante” para definir a solidariedade que recebe no tratamento contra o câncer. E afirmou que encarou a notícia de que tinha a doença como diagnóstico, “e não uma sentença de morte”.

Fez um balanço do ano para a prefeitura, criticou o presidente Jair Bolsonaro e seu combate “ao comunismo no mundo” —e falou sobre a decisão de fazer um festival em contraponto à censura de obras artísticas pelo governo federal: “Uma bobajada sem fim. Esse tipo de discurso não combina com SP”. Leia um resumo da entrevista:

NATAL

Meus pais vieram de Santos porque estavam com medo de eu ir até lá e acontecer alguma coisa. Eu e meu filho [Tomás] sempre almoçamos com eles no dia 25. Dessa vez foi na casa do meu irmão, em SP. Mudamos o endereço. Mas permanecemos com a família.

No Ano Novo eu normalmente ia para a praia. Qualquer uma. De preferência, diferente da do ano anterior. No ano passado fui para Trancoso (BA). No dia 31 eu faço um exame para saber se tenho que tomar uma medicação para estimular a medula a produzir glóbulos brancos.

Dependendo do resultado, tenho que acordar às 9h do dia 1º para receber o remédio. Então eu fico em casa. Caso contrário, talvez eu vá à casa de amigos. Beber, nem pensar.

BALANÇO

Não tem como dissociar o balanço do ano do episódio de parar no hospital para tratar de uma infecção e cinco dias depois iniciar uma quimioterapia [diagnosticado inicialmente com uma erisipela, o prefeito fez exames e descobriu que tem câncer localizado entre o estômago e o esôfago, com metástase no fígado]. É claro que isso é muito forte.

SOLIDARIEDADE

É impressionante a solidariedade. É impressionante a quantidade de mensagens que eu recebi, muitas de gente que não tenho a menor ideia de quem sejam. Tem algumas de quem vamos ficando quase amigos de tantas mensagens que mandam.

Elas chegam pelo Instagram. Não tudo, mas mais da metade eu vou respondendo.

MULHERES

A maioria das pessoas que me abordam são mulheres. É impressionante como elas são muito mais emotivas. No shopping, você vê o marido com vergonha. E a mulher vem e fala comigo [risos]. Elas se comovem mais. Cuidam da família e já pensam no filho, no sobrinho, no irmão [ao abordar o prefeito]. É impressionante.

MUDANÇAS

É muito cedo para avaliar [o impacto psicológico da doença]. É muita coisa [acontecendo] em cima da outra. Qualquer coisa eu me emociono. Estamos no calor da hora. Talvez depois a gente consiga avaliar com mais calma sobre o que mudou.

TRISTEZA

Volta e meia a gente fica triste, chora. Isso faz parte. Eu sou um ser humano como outro qualquer. Mas não dei tempo para o desânimo.

DE ONDE VEM A FORÇA

Não sei. Não sei. Se você pensar em um amigo diagnosticado [com câncer], você fica com dó, achando que ele não vai mais conseguir sair de casa, que aquilo vai derrubá-lo.

Eu não imaginei que teria esse tipo de reação [de força e ânimo]. Eu não imaginei que conseguiria manter o meu dia a dia tão firme assim. A gente encontra força para viver.

RELIGIÃO

Uma amiga minha outro dia falou: “Imagina se cada oração enviada a você tivesse um fiapo de luz direcionado ao seu corpo, o quanto isso significaria de luz em cima de você”.
E realmente é impressionante. 

Me contam: “Bruno, cheguei na igreja, fui botar seu nome na lista de orações e ele já estava lá”. Não só me impressiona como ajuda. Se as pessoas estão tão preocupadas, como vou deixar de lutar?

VIDA

Eu me lembro da frase do meu avô [o ex-governador Mário Covas, que morreu em 2001 vítima de um câncer na bexiga]: tem o principal e tem o acessório. O principal é a vida. Estou agora lutando pela vida.
Não tem como ficar triste porque não posso ir à academia [de ginástica] ou em festa. O importante é enfrentar uma doença difícil de ser enfrentada. Depois volto para a academia e volto a frequentar festa.

PROJETOS

Eu fiz três sessões de quimioterapia [depois do diagnóstico]. Uma bateria de exames definiu a segunda etapa do tratamento, com mais cinco sessões. Faltam três: duas em janeiro e a última na primeira semana de fevereiro. Depois de novos exames vamos decidir se opero ou não [para a retirada do tumor]. Não tem previsão de futurologia. Em cada momento, a sua aflição. E cada um evolui de uma forma com a quimioterapia.

Quando você vê estatística [do que ocorre com outros pacientes], junta alhos com bugalhos, situações completamente diferenciadas que não têm nada a ver com o seu corpo. A medicina evoluiu demais. Não dá para comparar o que é enfrentar um câncer hoje, inclusive com metástase já, como é o meu caso, com o que ocorria há 20 anos.

Então desde o começo encarei isso como um diagnóstico, e não como uma sentença de morte. Vamos enfrentar, vamos vencer essa e vamos tocar para a frente.

ESTADO GERAL

O médico disse que eu estou tendo o melhor dos dois mundos: baixo efeito colateral e alto efeito [da quimioterapia] no câncer. Não tive enjoo, não perdi o apetite. Cabelo já não tinha mais. Então o que perdi foi a barba [risos]. Agora, a energia não é a mesma. Eu não consigo mais sair de casa às 6h para a academia e voltar à meia noite, como era a minha rotina.

O médico [o infectologista David Uip] falou: você tinha um tanto de energia. Agora, tem menos. Então gaste bem. Eu venho para a prefeitura, fico aqui das 8h às 17h, trabalho tranquilamente. A limitação do que você pode ou não é o próprio corpo que vai te dar.

PREFEITURA

O orçamento de 2020 terá um incremento de 13%, de R$ 60 bilhões para R$ 69 bilhões —um crescimento muito acima do que o Brasil está vivendo. Invertemos um déficit de R$ 7 bilhões em 2017 para um orçamento com R$ 7,5  bilhões de investimentos em obras, infraestrutura, zeladoria. 

A gente vem fazendo controle de ISS já há algum tempo.

Veja o trabalho que a Câmara Municipal fez com os bancos [uma CPI investigou o fato de alguns manterem sede em outra cidade para pagar menos imposto]. Estou aqui para governar para a cidade e não para banqueiro.

GOVERNO FEDERAL

Caiu bastante a quantidade de repasse [da União para SP]. Mas não posso apontar que seja perseguição com a cidade.

O que a gente sente, quando conversa com outros prefeitos, é que é uma coisa generalizada. Eu acho que eles [equipe do presidente Jair Bolsonaro] estão passando pelas dificuldades naturais que se tem no primeiro ano de gestão. Espero que no ano que vem a gente possa recompor isso.

JAIR BOLSONARO

Eu sinto o presidente muito mais preocupado em derrotar o comunismo no mundo do que em resolver o rombo orçamentário, investimento que precisa ser retomado, o crescimento econômico.

A falta de diálogo com o Congresso Nacional retardou reformas que poderiam ter sido aprovadas já neste ano —que ficou somente na [reforma] previdenciária.

Há uma dificuldade de deixar de lado o palanque para focar no dia a dia. Eu lamento porque [o governo Bolsonaro] fica muito mais no discurso político do que na gestão do dia a dia da Presidência.

CENSURA

Em janeiro vamos fazer o festival Verão sem Censura [que inclui espetáculos censurados ou criticados pelo governo Bolsonaro]. Aliás, espero que aqui as quatro estações sejam sem censura. 

São Paulo é a cidade símbolo da luta pela democracia, da luta pelo impeachment. A av. Paulista abriga qualquer tipo de manifestação —seja a do Lula Livre, seja a do passe livre, seja a do impeachment, seja a favor da volta da ditadura. Aqui é um espaço democrático. E a cultura é um pouco isso. Não dá para censurar.

Eu me lembro muito bem quando um diretor do Banco do Brasil foi mandado embora porque fez um comercial com atores LGBT. Como se isso fosse uma ideologia de gênero. Uma bobajada sem fim.

Esse tipo de discurso não combina com São Paulo. Aqui, no mesmo feriado [de Corpus Christi, em junho], nós temos a maior Marcha para Jesus do país e a maior Parada LGBT. E eu fui aos dois neste ano. 
Quanto mais a cidade fomenta eventos, atrações culturais, é geração de emprego e renda na veia. Prefeito tem que se preocupar com isso.

Não é uma questão de gostar ou não gostar. A cultura não é a que eu aprecio. É a que representa o que o povo pensa.

ECONOMIA MELHOR

Estamos há tanto tempo em recessão que não dá para apostar contra o país só porque isso fortalece o Bolsonaro. A conta da exclusão social quem paga aqui sou eu, com explosão de morador em situação de rua, por exemplo.

Não é porque isso eventualmente possa fortalecer ele [presidente] numa disputa que vou torcer contra o país. 

Político não pode ser como biruta de aeroporto que o vento tá pra lá, tá pra cá que ele muda de opinião

Na última eleição, o centro [político] não foi escolhido pela população. Mas eu não vou mudar de lado por causa disso. Em algum momento as pessoas talvez voltem a buscar o bom senso que, eu acredito, esse centro representa.

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