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A DEMOCRÁTICA MULTIPARTIDÁRIA COMO “CARA” DE MOÇAMBIQUE
(brazão mazula)
Comunicação apresentada no “Ciclo de
Debates
sobre
30
Anos
de
Democracia
Multipartidária”, organizado pelo Instituto para a
Democracia Multipartidária (IMD), no dia 3 de
Setembro de 2020), na cidade de Maputo.
1. Começo por saudar todos os presentes, desejando-lhes uma óptima saúde e,
sobretudo, neste momento da covid-19. Endereço uma saudação especial ao senhor Dr.
Hermenegildo Mulhovo e à sua Equipa de trabalho pela iniciativa de organizar um Ciclo de
Debates em comemoração dos 30 anos da introdução da democracia multipartidária em
Moçambique. Saúdo com todo respeito e consideração os digníssimos Membros do painel
que integra o Sr. Dr. Filimão Suaze, S. Ex.cia o Vice-Ministro da Justiça, Assuntos
Constitucionais e Religiosos, o Dr. Tomás Vieira Mário, Presidente do Conselho Superior da
Comunicação Social, o Sr. Embaixador Dr. Miguel Nkaima e o Frei Alfredo Manhiça.
Aproveito felicitar o Sr. Dr. Tomás Vieira Mário pelo seu projecto de tradução da
Constituição nas várias línguas nacionais.
Apesar do aperto do momento em que vivo, não podia não aceitar este convite pela
importância do evento e pela apreciação positiva que faço ao IMD pelo seu engajamento no
“fortalecimento do sistema democrático” no país.
2. Depois de ler os textos do convite e, sobretudo, a fundamentação da iniciativa e a
listagem dos objectivos que se esperam, veio-me de imediato à cabeça o nome de Emmanuel
Levinas (1906-1995). Este filósofo, de origem lituana e naturalizado francês, tem um texto
emocionante sobre o “Rosto humano”. Não vou falar dele, mas apenas dizer que me inspirou
para o tema da minha fala que compara a democracia multipartidária à cara humana, ou seja,
vou reflectir a Democracia Multipartidária como a Cara de Moçambique.
O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea dá muitos sinónimos à “cara” e
muitas formas de seu uso. Para objectivo desta fala fico apenas com três sinónimos: i) Cara
como “parte anterior da cabeça humana”, isto é, “Face, Rosto”; ii) Cara como “Pessoa ou
personagem”; iii) Cara como “Fisionomia, Semblante”, portanto “expressão da própria
face”.1
É nestes três sentidos que comparo a democracia multipartidária à “cara” e questionar,
por um lado, se esta democracia multipartidária expressa ou retrata verdadeiramente a cara
moçambicana e, por outro, se esta cara moçambicana transparece a democracia
multipartidária desejada pela Constituição da República (CRM: artigos 3, 4, 52, 53 e 54).
A minha comunicação é uma provocação ao debate neste público. Se divergirmos,
ficarei satisfeito por ter conseguido provocar um caloroso debate, expressão da diversidade
de ideias, o que enriquece o próprio debate assumido com liberdade, respeito e
responsabilidade de opinião, qualidades igualmente consagradas no Título III da
Constituição, referente aos “Direitos, Deveres e Liberdades Fundamentais”. Se chegarmos a
um acordo, seja ele resultado de um diálogo comunicativo e não um “consensualismo” que
1
Academia Das Ciências de Lisboa e Fundação Calouste Gulbenkian. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.
Lisboa, Editorial Verbo, 2001, p. 686.
2
Claude Lévi-Strauss considera como característica de “sociedades frias”, que seriam as
nossas.
3. Em base dessas considerações preliminares, convido V. Ex.cias a ver, i) em
primeiro lugar, a democracia multipartidária moçambicana como a “parte anterior” à cabeça
moçambicana, isto é, à face moçambicana, ao rosto moçambicano. Deste entendimento
podemos perguntar: a democracia multipartidária chega a ser a cara de Moçambique? ii) O
segundo aspecto, na linha da mesma definição, a democracia multipartidária tem de ser vista,
não apenas restrita aos partidos políticos (parece que hoje há mais de 100 registados) e às
instituições que lhe configuram (as chamadas instituições democráticas), mas, sim e,
sobretudo, tem de ser vista como a própria pessoa moçambicana, como personagem
moçambicana. Na perspectiva de John Locke e Montesquieu, direi que Moçambique avançou
bastante com a Constituição de 1990 e a revisão de 2004 (cfr. Título V, que diz respeito à
“Organização do Poder Político” e mais especificamente o artigo 134, sobre a separação e
interdependência dos poderes legislativo, judiciário e executivo. A segunda definição de cara
não se limita à pessoa jurídica ao nível do Estado e de suas instituições, ela abrange também
as pessoas colectivas (como as organizações da sociedade civil) e a pessoa singular que é o
cidadão, com ou sem filiação partidária. Esta definição leva-nos à seguinte pergunta:
podemos dizer que, no palco da sociedade moçambicana, o funcionamento e a articulação
destes três sujeitos-personagens expressam a almejada democracia multipartidária? iii) A
terceira definição diz-nos que a democracia multipartidária deve constituir a expressão da
própria cara moçambicana, por outras palavras, que a democracia multipartidária consagrada
na Constituição da República há 30 anos se constitua, de facto, em “fisionomia ou semblante”
de Moçambique. No meu entender estes são os reais desafios da democracia multipartidária
no nosso país.
4. Todos nós, além do banho matinal, ao longo do dia lavamos a cara depois de uma
actividade que sujou a cara. Hoje, por causa da covid-19 e da saúde pública, somos obrigados
a lavar as nossas mãos muitas vezes durante o dia para não contaminar a nossa própria cara
que, por sua vez, pode ser veículo de contágio da cara do Outro e de toda a comunidade que
nos rodeia. Este coronavírus adverte-nos, --- e isto é interessante, --- que qualquer cara, seja
de quem for, não importante o seu estatuto político, económico, académico ou religioso, pode
ser veículo de um contágio mortífero. Assim, o varredor de rua pode contaminar um ministro;
a criança de rua pode contaminar o motorista mais bem engravatado do Mercedes-Benz; o
garçon de uma lanchonete pode contaminar o melhor comandante do exército; um
subordinado pode contaminar em cheio o seu chefe; para não falar dos namorados que, ao se
beijar, podem contagiar-se mutuamente e expandir esse contágio aos seus familiares. É um
drama que mostra, por um lado, a pequenez daqueles que se consideram grandes e, por outro,
a igualdade natural entre pequenos e grandes, entre ricos e pobres.
E porquê? Ela (a cara) é a parte frontal da nossa cabeça, a parte mais descoberta e a
mais visível. Quando vemos alguém, mesmo sem dizer ao nosso interlocutor, dizemos no
nosso interior: “a cara dele está limpa ou suja”, independentemente se os seus traços
fisionómicos são bonitos ou feios. A limpeza da cara transcende os atributos acidentais de
bonito e feio. Em rigor existencial não há pessoa feia. Para o Criador todos são bonitos, senão
não os teria criado. Sentimo-nos confortados estar ao lado de uma pessoa com cara limpa.
Assim, o primeiro desafio que cada um de nós tem, além do banho matinal, é o de manter a
cara sempre limpa e as mãos sempre higienizadas para a limpeza da cara. Ora, Moçambique,
depois da noite escura da guerra civil de dezasseis anos, soube lavar a sua cara na manhã de
4 de Outubro de 1992 com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em Roma/Itália,
antecedido da revisão estratégica da Constituição da República que introduzira, em 1990, a
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“democracia multipartidária”. O desafio subsequente foi o de manter, ao mesmo tempo a paz
e a democracia, duas bochechas da mesma cara. O desafio de manter a cara moçambicana
sempre limpa é o ganho que se destacou mais nos vinte anos seguintes ao Acordo Geral de
Paz e foi possível limpando frequentemente a cara com as mãos de diálogo as possíveis
manchas que foram surgindo no cenário político. Essa cara manteve-se limpa entre 1992 e
2012. Com a tensão político-militar de 2013-2014 a cara moçambicana voltou a sujar-se.
5. Então, vejamos o que pode manchar e desfigurar a cara: apresentar-se em público
com a testa suja de lama ou matope; deixar escorrer o suor da testa sem limpá-lo com um
lenço; o nariz a fungar de ranho, dificultando um olfato saudável; olhos cheios de ramelas,
atraindo moscas; os extremos da boca com pedacinhos de comida durante a refeição; as
sobrancelhas-substitutas mal pintadas ou pintadas com uma cor berrante; os dentes
encardidos a exalar um cheiro esquisito na boca; as bochechas cheias de borbulhas de todos
os tamanhos, por vezes, basta uma borbulha não cuidada; ouvidos entupidos de cerume,
denotando a falta de uma limpeza cuidada, e dificultando, em consequência, a boa audição.
Mais o quê? A barba mal aparada e o cabelo mal penteado; escorbuto nos lábios ou beiços,
denunciando a falta de vitamina C no organismo e descuido alimentar, ao mesmo tempo que
a pessoa exibe carro e um fato de luxo: costuma-se dizer que não se compreende que falte
gasolina num Mercedes-Benz. Interessante, quando se perde o olfato, também se perde o
gosto. É igualmente interessante: basta uma dessas manchas para desfigurar a cara, mesmo
que a pessoa se tenha esmerado noutros aspectos. Imaginemos alguém, bem trajado e com
sapatos a brilhar, mas esqueceu-se de limpar o nariz e exibe mucosas nas suas narinas. Essa
pessoa fica não só desfigurada como desqualificada, pelo menos, naquele momento.
É recomendável que, de momentos a momentos, como este que o IMD nos
proporciona, procuremos avaliar se a nossa democracia multipartidária como cara
moçambicana não exibe algumas dessas manchas. Irei dar alguns exemplos e penso que todos
acompanharão o meu raciocínio. Primeiro exemplo: custa entender que, passados 30 anos da
introdução da democracia multipartidária, ainda se queira resolver problemas sociais ou
políticos à base de armas de fogo, como o que acontece no Centro do País: chamo a isso de
matope político na democracia multipartidária, pois suja o rosto moçambicano. Na sua
inocência de vida as crianças é que costumam brincar em águas sujas, sem pensar nos perigos
de saúde que correm e não os adultos. Falando à Kant, 30 anos deviam ser anos de
“maioridade” e não de “menoridade”. Segundo exemplo: custa entender que se pense, se
planifique a morte de alguém ou a danificação de algum órgão de comunicação social (como
o que aconteceu há tempos com o incêndio das instalações da STV e recentemente com as do
Semanário “Canal de Moçambique”), só porque pensa diferente, quando o metabolismo da
democracia multipartidária se faz com a diferença de ideias e a riqueza da própria democracia
reside, precisamente, na liberdade de escolha de informação, que permite discutir em
conjunto as melhores vias de desenvolvimento do país: isso é o que chamo de ramelas
políticas nos olhos dos planificadores e executores de mortes, que não lhes permitem ver e
perceber que a beleza da democracia está nessa pluralidade de opiniões, consagrada na CRM.
Aliás, a Constituição não se refere apenas ao pluralismo político como também se refere ao
pluralismo jurídico (CRM, art. 4) e ao pluralismo de ideias na qual assenta a democracia
cognitiva. Há um pormenor importante: para a Constituição da República “o exercício da
liberdade de expressão (…) compreende, (entre outros) a faculdade de divulgar o próprio
pensamento por todos os meios legais (…) (CRM, artigo 48, nr. 2). Daí que tanto os que
pensam, planificam, orquestram uma fundamentação jurídica, como os carrascos, aqueles que
executam a ordem de matar ou danificar os bens alheios públicos ou privados e aqueles que
ilibam os executores, segundo Edgar Morin, todos são criminosos. É difícil de imaginar que
esses matadores sejam treinados em instituições que animalizam a pessoa humana para ceifar
4
a vida de outra pessoa humana. Disse que custa entender esses actos bárbaros porque o
“direito à vida” é assegurado pela Constituição no seu artigo 40, quando diz: “1 – Todo o
cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura ou
tratamentos cruéis ou desumanos”; no nr. 2, diz que “na República de Moçambique não há
pena de morte.” Ora, essas matanças contradizem a Constituição da República. O terceiro
exemplo interpela a todos nós, na medida em que olhamos mal, por um lado, por causa das
ramelas políticas que reduzem ao mínimo possível a nitidez da visão e, por outro lado,
tapamos os ouvidos com cerume para não ouvirmos nem a fala nem os gritos das crianças de
rua nas nossas cidades. Samora Machel repetia-nos dizendo que as crianças eram “flores que
nunca murcham”: bela frase samoriana! Hoje deixamos as crianças de rua a murcharem.
Nessa insensibilidade social colectiva misturam-se as ramelas dos nossos olhos e o espesso
cerume dos nossos ouvidos e assim normalizamos a triste situação dessas crianças, cidadãos
desta Pátria. Se bem me lembro, houve momento em que se queria legislar contra a
mendicidade, como se as crianças de rua e os mendigos quisessem ser mendigos e se a
mendicidade fosse uma profissão à qual se devia taxar e cobrar imposto. Felizmente, pareceme que essa proposta de projecto de lei não vingou. Penso que o Governo poderia envolver as
Confissões Religiosas que se revelam com vocação no cuidado dessas crianças, atribuindolhes um orçamento específico em todos os anos, cooperando com elas mediante um contratoprograma, no espírito do artigo 47 da CRM. Termino com um quarto exemplo: identifico
outra mancha, que é doença. Ela não só desfigura a cara como também mata o dono da cara.
Refiro-me ao escorbuto. Luís de Camões refere-se a ele nos seus Lusíadas como “doença
crua e feia”, que ele nunca viu; na viagem de Vasco da Gama matou muitos companheiros,
sepultando “os ossos pera sempre (…) em terra estranha e alheia”, como diz no Canto V, nr.
81 (Grifos do autor). O Diário da Viagem de Vasco da Gama mostra quão grave era essa
doença: “adoeceu toda a gente, das gengivas, que lhes cresciam sobre os dentes em tal
maneira que não podiam comer: e, isso mesmo, lhes inchavam as pernas, e grandes outros
inchaços pelo corpo de guisa que lavravam um homem tanto até que morria sem ter nenhuma
doença.” O mesmo Diário diz ainda que “morreram em o dito tempo trinta homens, fora
outros tantos que já eram mortos”. 2 Resumidamente, os lábios ficam cheios de feridas, as
gengivas crescem “sobre os dentes” não permitindo comer à vontade. Refiro-me aqui às
intrigas e fofocas, à malícia e vingança. No nosso país, há pessoas que se especializam em
intrigas e fofocas; geralmente são incompetentes nas suas profissões, ou sem profissão
alguma ou com profissão mal acertada. Para singrarem na vida, na primeira oportunidade que
têm de falar com o chefe, falam mal do colega ou da pessoa-alvo, mancham a sua imagem e
dignidade, tudo fazem para convencer o chefe a tirá-lo do seu posto de trabalho e eles
ocuparem o lugar ou passar para algum familiar seu e ascender a postos superiores. Inventam
todos os defeitos possíveis e mais alguma coisa; são piores que “a divina Equidna”, deusa da
mitologia grega, “de espírito ardiloso.”3
Algumas diferenças e semelhanças. Os Esquadrões da Morte matam com uma pistola
ou um AKM; os intriguistas e fofoqueiros, que são maliciosos e vingativos, matam com a
língua rodeada de gengivas inchadas e lábios emoldurados de feridas a jorrar sangue, estão
sempre em tensão alta quando falam e não desmaiam. Se o chefe ou o dirigente não for
ponderado, lá exonera ou demite o fulano mal-quisto e nomeia o intriguista e fofoqueiro. Não
percebe que, no fundo da intriga e da fofoca, está a inveja e a vingança. Os Esquadrões da
Morte passeiam pelas ruas das cidades e vilas à caça da vítima, ostentando poder e
impunidade; os intriguistas e fofoqueiros passeiam no ar com drones imaginários para
2
3
RAMOS, Emanuel Paulo (Org.). Os Lusíadas de Luís de Camões. Porto, Porto Editora, 1996, p. 482, Nota de rodapé.
HESÍODO. Teogonia &Trabalhos e Dias. Trad. Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira. Lisboa, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 2005, p. 51.
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fotografar os defeitos dos seus alvos. Os Esquadrões da Morte, com conjuntivite política
assassina nos seus olhos, não vão à floresta caçar, porque têm medo de leões e de outras feras
que mal sentem o cheiro da pólvora atacam certeiro o portador da arma. Os intriguistas e
fofoqueiros usam e abusam das redes sociais como facebook para as suas escritas e evitam o
bocabook, porque têm consciência de que não sustentarão racionalmente as suas intrigas e
fofocas. Se não gozam de imunidade, estão confiantes da sua loquacidade à altura de Górgias,
o sofista referido pelo Platão n´A República. Tanto os Esquadrões da Morte como os
intriguistas e fofoqueiros políticos matam, a fortiori, a democracia multipartidária. Tanto eles
como os seus mandantes e patrões rasgam a Constituição da República onde diz que “todo o
cidadão tem direito à honra, ao bom nome, à reputação, à defesa da sua imagem pública e à
reserva da sua vida privada. (CRM, artigo 41). Também custa perceber como alguns espaços
judiciais podem defendê-los. Ah! Entendi: é por causa do princípio da presunção de
inocência.
6. Estou a terminar. V. Ex.cias devem ter notado que o sujeito central da minha
modesta fala é a pessoa humana, o cidadão. Sem o cidadão na sua qualidade de pessoa
humana, não há Estado de Direito Democrático algum, não há democracia multipartidária
autêntica. É a partir dele e por causa dele que se organizam e se justificam os três poderes
clássicos do executivo, legislativo e judiciário e as suas instituições de direito e democráticas.
Sem o cidadão, esses poderes perdem a razão da sua existência. Entendo ser esta a grande
riqueza da CRM de 1990: a introdução do Estado Democrático de Direito e a Democracia
Multipartidária.
Em segundo lugar, num Estado Democrático de Direito, a Justiça é o seu sangue, o
Parlamento é ou devia ser o cérebro, o Executivo são as mãos do trabalho duro. Quando o
sangue é sujo, pode apanhar leucemia, que mata. Ora, a democracia postula uma justiça
saudável e não doente. O povo não quer uma justiça doente leucémica. O cérebro comanda o
funcionamento dos vários órgãos do corpo; se apanha um cancro, reflecte-se imediatamente
no funcionamento dos diversos órgãos. A democracia multipartidária exige um parlamento
sem cancro. As mãos do Executivo são importantes tanto para manter a cara da democracia
multipartidária sempre limpa, como para imprimir na sociedade a cultura de trabalho duro,
necessário para o desenvolvimento e nunca permitir que alguém use as mãos para matar um
outro cidadão só porque pensa diferente.
Daí, os meus apelos: 1. O meu primeiro apelo vai especificamente à Renamo, no seu
todo e com a Junta Militar, para que ajudem a consolidar a democracia multipartidária,
removendo o matope político no Centro do país, para manter a cara moçambicana sempre
limpa. 2 O segundo apelo vai a quem de direito, particularmente ao Governo e ao Parlamento,
para removerem as ramelas políticas que são os Esquadrões da Morte que, na prática,
aplicam a pena de morte já abolida pela Constituição, no nr. 2, do artigo 40, pois mancham
tremendamente a democracia multipartidária que deve ser cara moçambicana atrativa dos
investidores nacionais e internacionais para o desenvolvimento da economia do país. 3. O
terceiro apelo vai aos pais, para que não atirem os filhos para a rua da miséria e mendicidade,
mas assumam as suas responsabilidades. Este apelo estende-se ao Governo, para que
rentabilize as potencialidades das Confissões Religiosas e de pessoas singulares com vocação
para acolher e educar as crianças de rua, no âmbito do artigo 47 da Constituição; pois essas
crianças são cidadãos deste País. 4.) O último apelo diz que não podemos ficar indiferentes
aos intriguistas e fofoqueiros, pois não só mancham a imagem, a honra, a dignidade e a
credibilidade do Outro, como contribuem para a exclusão e descontentamento sociais.
Não obstante vários ganhos, como a política da descentralização e outros, as manchas
aqui identificadas significam que ainda não sabemos conviver socialmente, respeitando o
6
Outro, na medida em que elas traduzem a intolerância e a recusa da reconciliação nacional,
enfim, derrubam todos os esforços da paz e a coesão nacional. A remoção dessas manchas da
cara moçambicana são os desafios da democracia multipartidária. Hoje, devíamos estar mais
unidos e concentrar as energias nacionais para o combate efectivo ao covid-19 e aos
insurgentes no Norte do país.
Salvemos a Democracia Multipartidária! Mantenhamos sempre limpa a Cara
Moçambicana! Moçambique quer viver em Paz!
Muito obrigado pela atenção dispensada!