As revelações de Chopin através da mediunidade

Por Izabel Vitusso

Uma das mais respeitadas médiuns do movimento espírita brasileiro, que ganhou reconhecimento por sua dedicação e rara capacidade mediúnica, Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984) escreveu grandes clássicos da literatura espírita, trazendo histórias marcantes, muitas delas envolvendo suas próprias experiências em outras vidas, sob a inspiração de grandes nomes da literatura, como Camilo Castelo Branco, Léon Tolstói, Victor Hugo, dentre outros.

Em um de seus livros, Devassando o invisível (FEB, 1963), Yvonne fala sobre as sutilezas da mediunidade e também sobre os anseios de grandes espíritos e suas relações com o plano terrestre. 

Frédéric Chopin (1810-1849) é um desses grandes nomes, com os quais a médium estabeleceu uma grande amizade por mais de 30 anos de convívio entre os dois planos. Polonês de nascença, Frédéric Chopin viveu na França na época de Allan Kardec, quando tornou-se um dos grandes gênios da música, como compositor e pianista. 

O primeiro encontro

Yvonne Pereira relata sobre a emoção que sentia ao perceber a presença do artista, pela ternura e pela confiança que os envolviam. Conta que se viu surpreendida por ele pela primeira vez em 1931 e que o prenúncio da sua chegada se fazia sempre com um perfume de violeta, mais precisamente com o cheiro de folha de violeta apanhada na chuva, como certa vez ele explicou para a médium. 

Os encontros eram sempre promovidos e acompanhados por Charles, um dos mentores da médium,  — quando Chopin falava de seus sentimentos e anseios, como o fato de se sentir intensamente atraído para os planos terrestres pelas “intensas forças telepáticas”. Dizia que, naquele tempo, estavam reencarnadas no Brasil personalidades que lhe eram muito caras, que ele viveu em várias épocas na Terra servindo às belas artes, à arquitetura, à pintura, e finalmente à música, o ponto culminante da manifestação artística em nosso planeta. 

Atenta para tecer comentários instrutivos, Yvonne lembra que grandes artistas não se tornam espiritualmente superiores só por sua genialidade. “Como homens, cometeram muitas vezes deslizes graves. Por isso é que muitos retornaram a reencarnações obscuras após curto estágio no além”. Isso aconteceu também com o espírito Chopin, que se submeteu a uma rápida existência na Terra, humilde, apagada, porém triunfante.

Vínculos com o Brasil

Falando sobre sua relação com os planos terrestres, Chopin contou em um dos encontros – que se davam em estado de desdobramento da médium ou por materialização do próprio espírito — que sabia ser muito amado pelos brasileiros, o que o deixava muito enternecido, mas que às vezes sentia falta de preces dirigidas a ele, que serviriam de estímulo para as tarefas que empreenderia na próxima reencarnação. Tinha planos de servir a Deus e ao próximo, o que não havia feito ainda por meio da música. Pretendia reencarnar no Brasil, um país que “futuramente muito auxiliará no triunfo moral das criaturas necessitadas de progresso”, mas que tal só aconteceria a partir do ano 2000, quando desceria à Terra brilhante falange de espíritos com o compromisso de moralizar e sublimar as artes, sob a tutela de Victor Hugo, espírito capaz de executar missões dessa natureza, a quem Chopin se achava ligado por afinidades espirituais seculares. 

Yvonne traz informações asseguradas pelo mentor Charles de que espíritos como Chopin, Beethoven, Mozart, Bellini, Rossini etc, “embora ainda não santificados ou plenamente redimidos, não têm grande necessidade da reencarnação, porque progredirão mesmo no Espaço, e que vêm à Terra quando o desejam e por uma especial solidariedade para com os humanos, a fim de estimularem entre estes o amor pelo Belo, pois que esse atributo é tão necessário às almas em progresso quanto o Amor”.

O exercício do amor

Yvonne reproduz no livro o diálogo que teve com o gênio da música quando este lhe disse que estava aprimorando seus estudos no campo a medicina psíquica, preparando-se para a próxima encarnação:

— Quer dizer que... ao voltar à reencarnação será médium curador, talvez receitista? —  interroga Yvonne.

Chopin sorriu satisfeito e sacudiu a cabeça, afirmativamente.

— Então, não virá mais como artista? — ela insiste.

 — Por que não poderei aliar as duas qualidades, se os artistas, muitas vezes, não passam de médiuns? Nada me impede de continuar como artista nas reencarnações vindouras, pois não profanei as artes nem cometi quaisquer deslizes nesse setor. Mas, no momento, o que me preocupa mais é o desejo de servir aos pequeninos e sofredores, aos quais nunca protegi. Em minhas passadas existências, apenas servi aos grandes da Terra. Não desejo nem mesmo auferir proventos monetários, pessoais, da música. As artes, em geral, deverão ser praticadas gratuitamente, com amor e unção religiosa — explica o  artista.

Yvonne Pereira busca com Frédéric Chopin o aval para dividir com os encarnados todos aqueles fragmentos de vida a ela contados, de alguém muito querido, um artista que encantou o mundo e até hoje arrebata nossa alma com sua genialidade.